3 - Um país adiado
Corresponding Author(s) : Rui Miguel Lamarques
CODESRIA Bulletin,
No. 2 (2025): CODESRIA Bulletin, No 2, 2025: NÚMERO ESPECIAL MOÇAMBIQUE - Visão de alguns intelectuais moçambicanos sobre a violência pós-eleitoral
Abstract
Vidas interrompidas, prisões ilegais, destruição e saque: Como Moçambique vive um dos momentos mais tensos da sua história recente
Era uma manhã quente em Maputo quando os primeiros tiros ecoaram nas ruas. Hélder Sérgio, um jovem de 17 anos, estava no lugar errado e na hora errada. Tentou correr tropegamente no meio da fumaça do gás lacrimogéneo, mas perdeu os sentidos. E caiu, de tanto gás inalado. Foi encontrado pelos agentes da Unidade de Intervenção Rápida (UIR), já com os sentidos recuperados. Testemunhas dizem que ele implorou perdão e prometeu nunca mais participar de manifestações. Não adiantou. Foi alvejado dez vezes, na parte superior do corpo. Os tiros foram disparados à queima-roupa, com a intenção de matar. E os agentes da UIR, todos encapuzados com balaclavas pretas, seguiram para outras frentes, abandonando o corpo do Hélder, que se esvaía em sangue. “Ele não era bandido, ele não estava armado. Só tentou fugir porque estava assustado. Disseram que ele pediu perdão antes de o matarem”, conta Josefina Américo Cossa, tia de Hélder Sérgio. Histórias como a de Hélder multiplicaram-se por todo Moçambique durante os violentos protestos pós-eleitorais de 2024 e 2025. O que começou como uma contestação atendível contra um resultado eleitoral, tornou-se numa espécie de guerrilha urbana. O Governo reforçou a repressão através da UIR e dos chamados “esquadrões de morte”, uma milícia ao serviço do regime do dia. Mesmo assim, os manifestantes não arredaram pé. Aliás, reforçaram-se para responder à repressão estatal...
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